Afastados das cidades, os garimpeiros enfrentam inúmeras dificuldades ocasionadas pela irregularidade e marginalização da profissão.
A realidade dos garimpeiros tradicionais foi apresentada durante o 1º Encontro Garimpo Sustentável (Egasus), realizado pela Central das Pequenas Organizações do Estado de Mato Grosso (Cordemato) e Companhia Mato-Grossense de Mineração (METAMAT), via Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedec) e Governo do Estado de Mato Grosso. Para além das discussões propostas pelas palestras, as mais de mil pessoas que passaram pelos três dias de evento (22, 23 e 24 de março), puderam assistir à estreia do documentário Garimpo Sustentável, e conferir o Relatório do projeto de mesmo nome.
Quem participou do evento, também pode ouvir a história dos próprios participantes do evento.
"Fomos muito bem recebidos pelo pessoal da CORDEMATO e METAMAT, o trabalho que foi feito aqui, nos trouxe de volta a esperança. Porque nos últimos anos, nós fomos marginalizados como 'destruidor' ou 'poluidor', fomos esquecidos pela sociedade. Não temos nossos direitos assegurados: aposentadoria, recursos, por isso vivemos as margens da sociedade. E isso não pode continuar. A maior dificuldade que o garimpeiro encontra é justamente por trabalhar não regularizado", a fala embargada é de A. A. F., garimpeiro a 12 anos.
Filho de garimpeiro, ele viaja 300km para trabalhar, entre Apiacás e o garimpo do Juruena no município de Nova Bandeirantes. Ele mesmo se diz "correria" ou melhor "resolvedor", pois é responsável por cuidar da logística do lugar onde trabalha. Muita gente que trabalha no garimpo está na segunda ou terceira geração de esperançosos em conseguir achar o tão sonhado minério em grande quantidade, muitos não sabem ler e escrever, e tem como único ofício, ser garimpeiro. Vivem então, uma vida afastada da cidade. Do garimpo de onde trabalha, a cidade mais próxima, Nova Bandeirantes fica a 120km.
"Eu só trabalho de forma irregular, porque uma autorização pode demorar anos, e o que eu faço enquanto espero? Mas isso me tira o sono. A gente faz um investimento, mas não tem nenhuma garantia. Amanhã posso não poder trabalhar mais. Eu sou marido, sou pai e procuro sempre trabalhar com outras pessoas que também tem família, que pagam aluguel, tem filhos, tem que pagar pensão alimentícia, são trabalhadores, pais de família. Eu fico com medo de amanhã perder o pouco que eu tenho. Já está difícil sobreviver, se manter, imagina arcar com os custos de um advogado para sair da cadeia. A gente vê muitos deveres, e poucos direitos" finaliza A.
Dona Moema Bessa Lucas ainda reside em Guiratinga, onde garimpou diamante junto ao marido desde os 17 anos, e comentou no primeiro dia de evento, em programação destinada as mulheres, “garimpeiro sabe quebrar pedra”. Então para regularizar o trabalho é preciso criar uma ponte entre quem precisa, os garimpeiros tradicionais, e quem pode e deve auxiliar que é Governo do Estado, e a sociedade Civil Organizada.
O projeto
O presidente da Central das Pequenas Organizações do estado de Mato Grosso (Cordemato), Johnny Everson, destaca que desde a idealização o projeto foi acolhido pelo presidente da METAMAT Juliano Jorge Boraczynsk, “quando fomos apresentar a ideia o interesse foi imediato, porque a METAMAT entende a necessidade dessas comunidades, e que é preciso apoio para mudar a realidade que esta posta. Por isso, que o Governo do Estado está financiando esse projeto”
Para acessar essas pessoas em situação de vulnerabilidade e que desconfiam de equipes advindas do poder público, foi preciso um trabalho de sensibilidade. “A dignidade foi o ponto chave, a gente não ia ao local perguntar quantos gramas de ouro aquele garimpeiro tinha extraído, mas como poderíamos resolver o problema dele”, explicou o gestor geral do Projeto Garimpo Sustentável, Josias Silva.
Ele ainda completou “O estado sempre teve a mãe pesada na fiscalização, e agora está oferecendo a mão materna, de ir até lá, saber qual é a situação, fazer o levantamento de dados, com dinheiro dos nossos impostos, e coube a nós, ver a realidade e perceber que é preciso respeitar as particularidades de cada região, e ter a sensibilidade que é preciso que todos entendam e consigam seguir a lei que for imposta.
“Sabemos que esse trabalho é uma gota no oceano, porque apesar de ser uma população flutuante, Mato Grosso tem no mínimo 30 mil pessoas que dependem disso, só sabem fazer isso. Por isso, precisamos pensar em soluções, e encaminhamos a Lei do Cadastro Mineral, e vamos ampliar o projeto Garimpo Sustentável, para a região oeste do Estado”, finalizou o presidente da METAMT, Juliano Jorge Boraczynsk.
Aline Coelho
Assessoria de Comunicação
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